Ácido Hialurônico

25/05/2022 08:52

O que é?

O ácido hialurônico (AH) pode ser classificado como um biopolímero glicosaminoglicano solúvel em água formado a partir da junção do ácido glucurônico e da N-acetilglucosamina (BERNARDES et al., 2018). É sintetizado pelos sinoviócitos do tipo B presentes na membrana sinovial. No líquido sinovial as moléculas de AH se entrelaçam formando uma solução cuja função é lubrificar a articulação, além de ser um suporte mecânico e amortecedor de choques (REZENDE e CAMPOS, 2012).

Qual a importância da compreensão do ácido hialurônico e suas aplicações?

A osteoartrite (OA) é uma doença multifatorial onde ocorre a degeneração do tecido cartilaginoso e ósseo, promovendo um processo inflamatório intenso e necrose celular. Afeta as articulações, principalmente quadril, joelhos, mãos e pés; prejudicando seriamente a qualidade de vida da população adulta e principalmente a idosa, onde a doença tem maior prevalência (REZENDE et al., 2013). Em alguns casos pacientes afetados pela osteoartrite perdem a capacidade de trabalhar justamente pelas dores articulares causadas por essa degeneração (COIMBRA et al., 2004).

As causas da OA são diversas, porém estudos indicam que obesidade, fatores genéticos, uso excessivo, trauma, idade e gênero são determinantes para o processo de lesão na articulação, desencadeamento o processo patológico da OA (REZENDE et al., 2013). De acordo com Rezende et al. (2013), durante a OA ocorre também a inflamação da membrana sinovial nas regiões em que articulação já está danificada pela doença, sendo encontradas no líquido sinovial proteinases e citocinas inflamatórias que são capazes de acelerar o processo de degeneração articular.

Geralmente, para o tratamento da OA eram utilizadas medidas farmacológicas como analgésicos, anti-inflamatórios não hormonais e drogas modificadoras da osteoartrite (DMDOA) junto com medidas não-farmacológicas, como fisioterapia e acupuntura, sendo a última comprovada no alívio da dor dos pacientes (REZENDE e CAMPOS, 2012). Porém, dentro das medidas farmacológicas, os analgésicos não conseguem impedir o avanço da doença, os anti-inflamatórios possuem inúmeros efeitos colaterais e o único grupo de medicamentos que realmente consegue reverter, desacelerar ou estabilizar o avanço da doença são as DMDOA (REZENDE et al., 2013).

 

Dentro das DMDOA utilizam-se medicamentos como a diacereína, condroitina e glicosamina. A eficácia dessas substâncias é amplamente discutida e, em estudos recentes, acredita-se que a associação da glicosamina com a condroitina pode prejudicar a absorção da glicosamina no organismo, afetando sua ação terapêutica (REZENDE et al., 2013).

Concomitante às DMDOA existe a viscossuplementação que consiste em injetar ácido hialurônico nas articulações diartrodiais, onde há interface de dois ossos, de modo que esta interface seja preenchida pelo líquido sinovial. Segundo Oliveira et al. (2019) esse método era utilizado para tratar cavalos de corrida que sofriam de artrite traumática e logo após foi adaptado para humanos.

A injeção de ácido hialurônico faz com que ele, no líquido sinovial, diminua a inflamação atuando como modulador dos sinoviócitos que secretam as citocinas e outras enzimas inflamatórias além de também estimular sinoviócitos do tipo B a secretarem mais ácido hialurônico. Adicionalmente, restaura a viscosidade, melhora a distribuição de forças e reduz a pressão de contato na articulação. Como coadjuvante, atua junto um anti-inflamatório corticóide que garante o alívio da dor e que diminui mais rapidamente o efeito inflamatório (REZENDE e CAMPOS, 2012).

Em estudos referentes a resultados clínicos, a viscossuplementação apresenta bons resultados, sendo que a melhora ocorre entre a 5ª e a 13ª semana de tratamento em pacientes com osteoartrite. A maioria das aplicações ocorrem para tratamento da OA no joelho, porém também pode ser utilizada para tratar a doença no quadril, ombros, tornozelos, cotovelos, mãos e os pés (REZENDE e CAMPOS, 2012).

Em resumo, o ácido hialurônico apresenta uma boa relação custo-efetividade em relação ao número de suas aplicações no tratamento de OA, o que aumenta a sua importância econômica na área médica (REZENDE e CAMPOS, 2012).

Para pacientes que mesmo com a viscossuplementação ainda apresentam dor, instabilidade e com a funcionalidade da articulação comprometida, ou seja, não obtiveram um progresso satisfatório no tratamento, recomenda-se que o próximo passo seja a artroplastia.

Sobre o Autor

Gabriel Padilha é técnico em química formada pelo IFSC e atualmente está cursando Graduação em Farmácia na UFSC. Gabriel é estagiário no Laboratório de Engenharia Biomecânica desde 2021, onde é responsável pela condução de ensaios de liberação de fármacos.

 

 

 

Referências

BERNARDES, I. N.; COLI, B. A.; MACHADO, M. G.; OZOLINS, B. C.; SILVÉRIO, F. R.; VILELA, C. A.; ASSIS, I. B. de; PEREIRA, L. Preenchimento com ácido hialurônico – Revisão de Literatura. Revista Saúde em Foco, 2018, v. 10, p. 603-618. Disponível em: <https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/07/070_PREENCHIMENTO_COM_%C3%81CIDO_HIALUR%C3%94NICO.pdf>. Acesso em: 27 de janeiro de 2022.

MESTRINER, L. A.; FILHO, J. L. Artroplastia total do joelho em pacientes com artrite reumática e osteoartrose. Revista Brasileira de Ortopedia, 1993, vol. 28, n. 4, p. 211-218. Disponível em: <https://rbo.org.br/detalhes/869/pt-BR/artroplastia-total-do-joelho-em-artrite-reumatoide-e-osteoartrose>. Acesso em: 24 de maio de 2022.

OLIVEIRA, L. E. A. de; BRÍGIDO, J. A.; SALDANHA, A. D. D. Efeitos da infiltração de ácido hialurônico no tratamento das desordens internas da articulação

Temporomandibular. Brazilian Journal of Pain, São Paulo, 2019, vol. 2, n. 2, p. 182-186. Disponível em:<https://www.scielo.br/j/brjp/a/hzTD5rLyksJz6bnSXjfZrbt/abstract/?lang=pt#>. Acesso em: 28 de janeiro de 2022.

REZENDE, M. U. de; CAMPOS, G. C. de; PAILO, A. F. Conceitos atuais em osteoartrite. Acta Ortopédica Brasileira, 2013, vol. 21, n. 2, p. 120-122. Disponível em:  <https://www.scielo.br/j/aob/a/wSLfqHbYjphBVLdqBCMdP4z/?lang=pt>. Acesso em: 28 de janeiro de 2022.

REZENDE, M. U. de; CAMPOS, G. C. Viscosuplementação. Revista Brasileira de Ortopedia, 2012, vol. 47, n. 2, p. 160-164. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/rbort/a/Y83fscJZp76cCk6Gk5Jm8Dw/?lang=pt>. Acesso em: 28 de janeiro de 2022.